Meu diário sobrevivencialista: Adventure Fair

Querido diário,

Enfim nos reencontramos, após um longo ano.

O ano mais difícil desde que passamos por aquela fase ruim, um ano tenso, onde estivemos na corda bamba muitas vezes.

Muitas coisas tem acontecido. Pessoas estranhas me param na rua, tiram fotos, agradecem perguntam coisas como se eu fosse algo além do que sou. Recebo convites sinceros para muitos eventos, palestras, almoços, churrascos e até batizado de criança. Não me acostumei com isso, olho pra essas pessoas, tantas mais capazes e preparadas que eu e me pergunto de onde veio essa sorte.

Sim, sorte, uma que vai além dos valores financeiros, aquela sorte intangível que acaricia a alma.

Fui a uma feira semanas atrás, passei bom tempo cercado por pessoas, meus meninos como sempre circulando ao lado, como satélites hiperativos, pessoas iam e vinham, algumas ficavam mais, em um dado momento, quando o volume de crianças (e barulho) aumentou em uma área tranquila que achamos, me dei conta, nossos pequenos estavam cercados por falcões vigilantes.

Ali estavam pais e mães, avós com seus netos, todos com atenção nos pequenos, cuidando, monitorando aquele balaio de gato barulhento e cacofônico, parei por um instante, reparei que cada mãe e pai parado ali para conversar comigo, não seguia só seus filhos com os olhos, cada um ali vigiava o grupo todo de crianças instintivamente.

Talvez você não tenha filhos, mas pode entender isso, era uma feira lotada, com transito de pessoas, lugar perfeito para o rebanho se dispersar, em um ponto, meu vermelho decidiu correr pra fora deste circulo, deu um pinote e começou a subir em uma estrutura de madeira montada na feira, obvio que não pelas escadas e sim pelas vigas externas.

Eu já ia pedindo desculpas as pessoas agrupadas ali para exercer meu papel de pai e correr atrás de criança, quando uma mulher segurando um bebê partiu como uma leoa saiu de nosso grupo e com aquela voz que só as mães sabem fazer, pegou a cria desgarrada da matilha em pleno pinote, e mandou voltar ao grupo de crianças.

Ela não olhava só o filho dela, vigiava todos.

Isso não aconteceu só com essa mãe e não só com meu filho, não houve um acordo ou uma conversa para todos ficarem de olho nas crianças, só aconteceu, como algo natural, como se ali naquele espaço público, uma grande família estivesse reunida por laços e histórias de vida, só que, ninguém ali se conhecia. Ninguém ali tinha obrigação de cuidar dos filhos dos outros, ninguém precisava se ocupar isso, mas todos fizeram.

Nessa hora, você sente que faz parte de algo maior, algo realmente grande, pessoal, sólido, aquela senhora mudou minha percepção, eu estava ali entre fotos e saudações acaloradas me sentindo como não merecedor desta festa, então me vi fazendo parte de um grupo, de uma família, as pessoas ali não eram mais desconhecidos querendo me abraçar, eram como primos e primas, tios, parentes distantes que eu não via a muito tempo a ponto de esquecer seus nomes.

Sim, eu faço parte disso, faço parte desta família, afinal todo mundo tem um primo caipira, gorducho, metido a machão e que fala o que quer a hora que dá na telha, todo mundo tem um Batata em casa, no meu caso, entro na casa das pessoas com mais regularidade que muitos parentes.

Eu sou um cara de sorte, meu clã é enorme.

Família, obrigado por aceitar a mim e meus protegidos, obrigado pelas palavras, abraços, fotos, piadas, broncas, sugestões, mimos, comidas, é uma honra e um privilégio estar com vocês.

Batata

4 thoughts on “Meu diário sobrevivencialista: Adventure Fair”

  1. Verdade Half Batata San. Sinto que a cada dia que passa parece que você faz mais parte de nossa vida. Sem mesmo estar em contato direto contigo e sua família. Esta família sobrevivencialista está se tornando a cada dia maior e maior. Mas isto alegra o coração e disperta o desejo de ser um preparador melhor e mais atendo aos intempéries da política e decisões econômicas desfavoráveis ao povo.
    Mais Você e Dona Raposa e seus filhos realmente moram em nossos corações de sobreviventes.

  2. Além da gratidão pelo seu trabalho, compartilhando informações não apenas de sobrevivencialismo, mas também de economia doméstica para um país que nasceu (e parece que vai morrer) na crise, todo pai e mãe tem esse instinto. Dentro do moto clube do qual faço parte é assim. Minha esposa e eu não temos filhos, mas sempre ficamos de olho nos filhos dos nossos irmãos de clube. É instinto humano. Eu mesmo aprendi muito com você. Hoje, na minha casa, temos abóboras, milho, alho, pimenta, e as poucos, vamos aumentando nossa horta e nossa sustentabilidade. Graças ao trabalho voluntário que fazemos em uma instituição que cuida de deficientes, aprendi a fazer massa e fiz alguns reparos aqui em casa. O primeiro pensamento que veio à minha cabeça foi “estou me tornando um sobrevivencialista. Queria que o batata visse isso!”. Sempre que faço vídeos para o meu canal do YouTube, faço questão de dizer que aprendi alguma coisa vendo o Guia do Sobrevivente. Com certeza, eu seria uma dessas pessoas que te param na rua pra tirar foto e, quem sabe, trocar uma ideia. Siga em frente para o bem de todos, meu caro Batata!

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